segunda-feira, 1 de julho de 2013

Show de Gilberto Gil e palestra de Milton Hatoum abrem a Flip

Mesmo apresentando problemas no som, o que provocou reclamações de quem estava prestigiando o espetáculo, o cantor e compositor baiano Gilberto Gil foi muito aplaudido ao fim de seu show de abertura da Flip - Festa Literária Internacional de Paraty - nesta quarta-feira (3). 



Gil se apresentou por volta de 22 horas, depois da apresentação do cantor local Luis Perequê. Gill iniciou o show com a música “Palco”, seguida de “A novidade” e seguiu em frente mostrando seus grandes sucessos e homenageando ainda Dorival Caymmi e Jackson do Pandeiro. 

Gil dará uma coletiva nesta quinta-feira, às 13h,para lançar “Gilberto bem de perto” (Nova Fronteira), fotobiografia de autoria do músico e da jornalista Regina Zappa, na Pousada do Sandi. O artista, que deixou uma caixa de livros autografados para venda na Flip, encerra sua participação na festa na mesa “Culturas locais e globais”, às 14h30m, com a historiadora Marina de Mello e Souza. 

Milton Hatoum Quem diria que um simples “boa noite” poderia ser já um convite a um olhar mais atento para as palavras? Logo após cumprimentar o público na Conferência de abertura da 11ª Flip, na noite desta quarta (3), o escritor Milton Hatoum contou uma anedota. “Se davam boa noite para o Graciliano Ramos, ele dizia: você acha mesmo?”, contou Hatoum, referindo-se ao homenageado desta edição. “Era um pessimista radical.” 



A brincadeira arrancou risos da plateia, ao mesmo tempo em que apontou o que seria um dos principais temas abordados por Hatoum: a acentuada desconfiança de Graciliano em relação a tudo, inclusive às palavras. “A linguagem nítida e precisa traduz um esforço de estilo, mas talvez seja também uma reação consciente à forte tradição da eloquência, da escrita pomposa e derramada, da qual Graciliano sentia verdadeira ojeriza”, disse Hatoum. 
Essa desconfiança também foi apontada pelo curador da Flip, Miguel Conde, na cerimônia de abertura. “Graciliano Ramos foi um autor que sempre se preocupou com o sentido político de sua obra, sem, no entanto, fazer dela um uso doutrinário ou panfletário. Foi um escritor meio avesso a momentos solenes, como esse aqui, de alguma maneira, não pode deixar de ser. E foi muito desconfiado da mitificação da figura do escritor, especialmente numa sociedade como a brasileira, onde a cultura letrada muitas vezes segue também como símbolo de demarcação das diferenças sociais”, disse Conde. "É como se fosse impossível realizar essa homenagem sem sentir que o olhar de admiração que a gente lança hoje em direção a Graciliano é devolvido por ele com um olhar meio desconfiado." 

Conde também destacou o fato de essa edição ocorrer num momento politicamente especial, em que várias manifestações ocorrem pelo Brasil. A onda de protestos inspirou uma programação extra, que será composta por três debates. “Desde que a Flip foi criada, em 2003, ela combina celebração e reflexão. Se esse momento político traz pelo menos alguns motivos de alegria, ele também exige um esforço redobrado de pensamento”, disse Conde. 

O curador lembrou que o primeiro livro de Hatoum, “Relato de um Certo Oriente” foi publicado em outro momento marcante na política brasileira: 1989, ano em que foi realizada a primeira eleição direta no Brasil, depois do fim da ditadura. “Nesse momento, que foi de uma mobilização cívica muito forte, a obra de Milton Hatoum surge ao mesmo tempo muito interessada em discutir o Brasil, mas também muito desconfiada do tipo de ufanismo e de formas coletivas de identificação que costumam acompanhar essas manifestações mais patrióticas.” 

Com voz firme e gestos contidos, para enfatizar um ou outro trecho, Hatoum levou o público a um passeio pela vida de Graciliano, que foi prefeito de Palmeira dos Índios e diretor de Instrução Pública de Alagoas, assim como pela vida dos personagens de seus livros, como Paulo Honório, de “S. Bernardo”, Luís da Silva, de “Angústia”, e Fabiano, de “Vidas Secas”. É neste último, aliás, que está uma das poucas – “senão a única” – páginas com um pouco de esperança na obra de Graciliano Ramos. Trata-se da que encerra o livro. “Uma esperança ainda vaga, que lembra a miragem da água, símbolo de fertilidade no sertão seco. Em todo caso, o que se encontra no centro da esperança de uma vida melhor é a escola, a educação, de que depende o futuro dos meninos: futuro incerto, mais próximo do sonho e da ilusão, reiterados pelo uso de um tempo verbal que é recorrente na obra do autor, o futuro do pretérito.” 

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